Está cada vez mais difícil acreditar que os diamantes sintéticos não prejudicam o mercado de gemas naturais.
A última pista que aponta para problemas no mercado de diamantes naturais surgiu recentemente numa matéria da Revista Forbes, que relatou um plano para vender pedras cultivadas em laboratório, nas lojas Bloomingdales e Reeds Jewellers.
O que é significativo no plano da Bloomingdales e da Reeds é que eles estão sendo promovidos pela De Beers, por meio do seu negócio de diamantes desenvolvidos em laboratório, o Lightbox.
Até agora, os diamantes Lightbox só estavam disponíveis no site da De Beers, que sempre argumentou que os diamantes sintéticos possuem baixo preço e visam o setor de acessórios de moda e não competem com suas produções tradicionais destinadas a jóias de alto padrão, especialmente o mercado de anéis de noivado.
Mas essa diferenciação pode estar mais nas mentes dos executivos de marketing da De Beers do que na dos consumidores de jóias, que já sabem que é praticamente impossível distinguir uma jóia natural de um diamante Lightbox.
A De Beers acreditava que, se não assumisse a liderança no mercado crescente de diamantes sintéticos, alguém o faria. Mas o risco do Lightbox se tornar um exemplo caro de canibalização sempre existiu.
Outro alerta de que nem tudo anda bem no setor tradicional de diamantes é um padrão consistente de queda nas vendas da De Beers, no setor de corte e no de processamento de pedras.
Em seu último evento, a De Beers registrou uma queda de 39% nas vendas, que se seguiu a uma baixa de 44% nas pré-vendas em comparação com o ano anterior.
No último balanço, a De Beers registrou US$ 295 milhões em vendas, muito abaixo dos US$ 482 milhões dos 12 meses anteriores.
Crise na economia global e agitação política em mercados importantes como Hong Kong, foram responsabilizadas pelo declínio nas vendas.
Não parece ser este o caso, se observarmos, por exemplo, os últimos números da receita da LVMH, o maior grupo de artigos de luxo do mundo, que vende produtos de alta qualidade, como bolsas Louis Vuitton, champanhes Krug e Dom Perignon e jóias Bulgari, veremos que, no mesmo período, a LVMH aumentou as vendas em 17%, apresentando inclusive um bom crescimento na Europa e nos EUA, apesar de algumas dificuldades em Hong Kong.
O ponto importante de comparar o desempenho da LVMH com o da De Beers é o fato de a De Beers fazer o mesmo no planejamento de suas campanhas de marketing de diamantes, lançando-os contra produtos de luxo rivais.
Se o declínio nas vendas de diamantes, quando um grande rival no mercado de luxo está crescendo não acende um alerta, sinaliza que existem problemas também com a migração das gemas sintéticas do setor de acessórios de moda para as altas jóias, e a entrada de outros fabricantes de gemas sintéticas no mercado, agora que a tecnologia foi dominada.
A De Beers poderia até argumentar que, se não tivesse lançado o Lightbox, perderia o controle do negócio de diamantes.
A ironia é que o Lightbox transformou os diamantes artificiais em uma alternativa aceitável aos diamantes naturais, deixando a De Beers se perguntando se isso ajudou a criar um monstro, que pode mudar permanentemente seus negócios de 131 anos.
Por: Juraci Neves
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