
Sobral, a augusta princesa do sertão cearense, erguida sob o firmamento de um céu que testemunhou o eclipse de 1919 e a glória de suas gentes, é um relicário de história, um santuário de cultura e um cadinho onde se forjaram almas excelsas. Dos Mont’Alverne aos Ferreira, dos Gomes aos Ponte, entre outros poucos, mas de igual relevância, esta terra foi alçada à eternidade por mãos laboriosas e espíritos magnânimos, que teceram uma tapeçaria de prosperidade e honra. E hoje, neste trigésimo dia de março do ano da graça de 2025, às dezessete horas e trinta minutos, Sobral curva-se em reverência e pranto ante a ascensão de uma de suas filhas mais veneráveis: Iracema Ponte Bento, a incomparável Iracema Pompeu, que, após uma existência de sublime esplendor, foi acolhida nos braços do Pai Eterno.
Nascida em 22 de fevereiro de 1922, Iracema não foi apenas um nome entre nós; foi um farol, uma constelação guia no firmamento da educação e da virtude. Dotada de uma elegância que transcendia o efêmero e de uma erudição que desafiava os limites do intelecto humano, ela elevou o magistério à condição de arte sacra. Como mestra emérita e catedrática, suas mãos sábias moldaram destinos que reverberam na história do Brasil. Foi ela quem, com paciência e gênio, iluminou mentes e passos estudantis de figuras como Renato Aragão, o arauto do riso que encantou a nação; de Belchior, o poeta cuja lira ressoa na alma brasileira; dos irmãos Ferreira Gomes, Ciro, Cid e Ivo, titãs da política que ergueram Sobral ao panteão nacional; e do ilustre Dr. Oscar Rodrigues, hoje o prefeito guardião da nossa urbe. Cada um deles, e tantos outros, carregou consigo o fogo do saber que Iracema, em sua cátedra, acendeu. Mas Iracema não se limitou às lides do intelecto. Foi esposa fidelíssima de Lulu Bento (in memoriam), com quem teceu um enlace de amor perene, um vínculo que a morte não pôde romper. Mãe devotíssima de Lucema Ponte Bento (in memoriam) e de Rejane Ceres Ponte Bento, ela foi também matriarca venerada de toda família: avó, bisavó e tataravó de uma prole que, sob seu santo exemplo, aprendeu a trilhar os caminhos da honra e da bondade. Para cada um de seus descendentes, ela foi a chama inapagável do lar, a voz que sussurrava sabedoria nas noites quietas, o coração que pulsava em uníssono com os seus. Eu, Thiago Taylor Fialho, sobrinho-bisneto desta alma excelsa, filho da estirpe de Alice Ponte Fialho e neto de Orlane Ponte Fialho, sua sobrinha mais velha, prostro-me em gratidão por haver partilhado o mesmo sangue e respirado o mesmo ar que esta mulher de proporções celestiais. Convivê-la foi um privilégio que transcende as palavras; ouvi-la, um bálsamo; venerá-la, em vida, uma bênção.
Iracema foi um pilar não apenas de Sobral, mas do próprio Ceará. Sua fé inabalável, entrelaçada à santa Igreja Católica, fez dela uma colaboradora dileta de luminares como Dom José Tupinambá da Frota, cuja visão pastoral ela abraçou ao ajuntar-se em sua laboração no desenvolvimento da educação sobralense; Padre Sadoc, Padre Lira, Padre Oswaldo, Padre Zé Linhares, Padre Gonçalo, com quem partilhou o ideal de uma cristandade viva; e, ao lado das veneráveis Mestra Anísia, Professora Maria José Ferreira Gomes, Professora Jacira Pimentel, Professora Minerva Sanford, Professora Maria das Graças Teixeira, Professora Izinha e outras tantas, a partir do Colégio Santana, lançou as sementes da educação que floresceram na Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA). Esta instituição, hoje um baluarte do saber nordestino, carrega em seus alicerces o espírito indomável de Iracema, que sonhou com um povo elevado pelo conhecimento e redimido pela fé.
A sociedade sobralense, com sua religiosidade profunda e sua tessitura comunitária, encontrou em Iracema uma musa e uma mentora. Ela foi a ponte, mas não apenas pelo nome que ostentava com altivez, e sim pela capacidade de unir eras, gerações e aspirações. Sua vida, que se estendeu por mais de um século, foi uma epopeia de sacrifício e triunfo, uma ode à resiliência e à graça. Cada aula que ministrou, cada conselho que ofertou, cada oração que elevou ao céu foi um tijolo na construção de uma Sobral maior, mais nobre, mais digna de sua história.
Hoje, ao nos despedirmos desta dama imortal, não há lugar para sombras. Há, sim, um hino de gratidão que ressoa em nossos peitos. Em nome da família Fialho, com especial deferência à minha avó Orlane, ergo esta homenagem como um estandarte de amor e reverência. Iracema, filha de Pompeu e Petronilia, esposa de Lulu, mãe de Lucema e Rejane, avó, bisavó do eterno Jeanzinho, e tataravó de uma linhagem abençoada, foi a quintessência da grandeza. Que os anais de Sobral, os periódicos do Ceará e as vozes do Brasil entoem este louvor. Que seu nome, Iracema Ponte Bento, seja gravado em letras de ouro na memória dos homens, como um símbolo de sabedoria, devoção e eternidade.
Descanse na glória, ó tia veneranda. Sua luz, que brilhou entre nós com fulgor inaudito, não se extingue; ela guia-nos agora desde os céus, um farol perpétuo para os filhos de Sobral e além. Que os leitores destas linhas, ao sorverem cada palavra, sintam-se elevados, honrados e tocados pela magnitude de teu legado.
Com devoção filial e admiração sem fim,Thiago Taylor Fialho e toda família,
Orlane, Fausta, Fabia, Klinger, Edmilson, Eduardo, Tercio, Debora, Orleando, Keyla, Larissa, Vinicius.
Sobral, 30 de março de 2025