(Foto: Reprodução)
Fiz setenta anos de idade no ano 2020. Você acha muito? Bem, é muito. Eu mesma fico surpresa quando penso na quantidade de tempo que passou, nos homens que amei, nos lugares que vi, amigos, viagens, países. Para mim a vida é um maravilhoso dom: e por isso 70 anos é muito, e eu quero mais.
Se as rugas incomodam? Mas é claro. Não gostaria de tê-las, pelo menos não como de praxe ter nesta idade. Em dia piores, examino a minha “casca” e não consigo admitir – não, eu não combino com o que vejo, eu sou muito mais jovem do que pareço.
Não consigo mais correr como uma lebre, ou pelo menos não como fazia aos 20. Sinto dor nas costas. Já passei situações difíceis, superei tudo… sofri bastante, mas não quero ficar apenas chorando por elas. Gosto mais é de ter gosto pelas coisas.
Acho que é isso: não consigo ser blasé. Deslumbro-me com a vida. Gosto da noite de lua, do dia de chuva, de ficar em casa quietinha… Acho muito divertido ser mulher… divertido e gostoso.
Faço o possível para o meu corpo esbanjar vitalidade e a energia que sinto, digamos, na cabeça. Nem sempre é possível, mas as tentativas ajudam muito. Ioga, pilates, caminhadas, boa alimentação, etc.
Ter 70 anos pode ser difícil pelo que representa, ou pelo que a gente imaginava que seria quando tinha 20. Mas na verdade, a cabeça, novamente ela, não me deixa desistir, envelhecer a alma. Pra mim, a vida tem frescor e eu me sinto jovem, enérgica, a dez mil por hora.
É claro que o bom senso também ajuda, ou a gente se transformaria apenas naquela mulher que tudo faz para parecer mais jovem do que é.
Se, ao contrário, apostando num modelo conservador, eu fizesse opção pelos blazers, pelos tailleurs discretos, me sentiria careta. Há mulheres que ficam maravilhosas, chiques assim, não eu.
Prefiro as roupas que rejuvenescem, sem exageros. Que acrescentam charme pela cor, pelo corte, pelo tecido. Gosto de me vestir inteiramente moderna, por exemplo, escolher um sapato mais esquisito com algum salto… é a minha maneira de brincar com a imagem, de torná-la menos certinha, mais desconstruída.
Adorava ser e parecer mais jovem, mas não cultivo nostalgias.
Coco Chanel dizia: “A natureza lhe dá o rosto que você tem aos 20, mas é da sua capacidade e responsabilidade merecer o rosto que tiver aos 70.
Nunca menti a idade. Na verdade, sempre gostei de aumentá-la, um ou dois anos. Assim, pelo menos me habituei a ouvir o clássico elogio “você parece mais nova!”. Sem culpas. E não é que sou mais nova mesmo?
Rosa Carvalho – Professora